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INTERSECÇÕES

 

     Círculos, quadrados, triângulos, a geometria e seus variados elementos, são as ferramentas que o homem criou para tentar organizar e dar sentido e forma ao não visível, como nos gráficos e nos elementos químicos, ou traçar certas regras possíveis para a percepção visual, como por exemplo, a harmonia e as proporções da natureza, posteriormente rebatidas nas construções humanas, como na arquitetura, design e arte.
    A geometria é também o elemento fundamental da produção de Renato Leal. É ela que nos primeiros trabalhos do artista dá forma às paisagens que, construídas com pequenos círculos, ganham leveza e movimento. Parecem pulsar diante dos olhos. É o cruzamento entre paisagem e forma, onde estes elementos se constituem opticamente através da quantidade e posicionamento dessa forma única circular. Por acúmulo e agrupamento, o artista transformava uma geometria abstrata na figuração da paisagem.
    Nos últimos anos Renato passou a investigar mais profundamente a geometria. A figuração deixou de ser condição final das obras e, ao invés de construir paisagens através da geometria, o artista passa a desconstruir e reconfigurar a geometria, em busca de novas formas, composições e efeitos ópticos.
    Intersecções, exposição individual que Renato Leal apresenta na Formatto Galeria, reúne uma série de trabalhos que partem da geometria e que se fragmentam no espaço. Se na série anterior de esculturas as formas geométricas se apresentavam integras, rígidas e sobrepostas, criando volumes que avançavam no espaço, nos novos trabalhos essas formas perdem a rigidez.
    As formas geométricas agora estão fragmentadas, distorcidas, moles. Se confundem ou se desenham com o espaço. Leveza, fluidez e movimento, antes desenhados nas paisagens do artista, tomam a própria geometria, que mesmo rígida, pulsa em arranjo óptico pelos espaços da galeria.
    É assim em Giro, onde pequenos retângulos de acrílico branco criam um círculo que se camufla na parede, ou nas séries Intersecções e Transformação, onde um mesmo elemento, linha ou retângulo, submetido a diferentes angulações e rebatimentos, criam novas estruturas que parecem trazer movimento e dinamismo à geometria rígida inicial.
    Mas é nas séries Organicidades e Linhas no Espaço onde o trabalho de Renato ganha novo fluxo. Na primeira, tiras de papel branco são sobrepostas a partir de um ponto de intersecção e criam estruturas que repousam na parede. Na segunda, linhas de metal pretas avançam da parede, não há mais vestígios tão claros da geometria empregada inicialmente, a não ser a de uma linha reta, que intuímos ser o ponto de partida no trabalho. A obra agora parte de intersecções possíveis para se tornar uma garatuja no espaço, e se desenhar nele como um grande mostruário das ações do artista sobre a geometria.

Douglas de Freitas
Março de 2019

Texto elaborado para "Intersecções", exposição individual realizada na galeria Arteformatto entre março e abril de 2019, em São Paulo-SP, Brasil.

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